O futebol é um esporte tão imprevisível e
mexe tanto com os sentimentos de uma pessoa que é apaixonada por ele que
foge de regras e padrões normais. O mais óbvio para um torcedor
fanático é guardar na memória jogos em que seu time conquista um título.
Já fui a mais de 100 jogos no Beira-Rio, dentre esses presenciei cerca
de 10 títulos do colorado. Mas por mais incrível que pareça apenas 3 dos
7 jogos que que marcaram muito em 23 anos que vou ao Gigante foram de
conquistas do Inter. Na minha primeira vez no estádio, Inter 1x0
Fluminense,Copa do Brasil de 92, Inter 1x0 Grêmio, Gauchão de 97 e Inter
3x2 Chivas, Libertadores de 2010. Os outro quatro jogos foram Inter 2x0
Santos e vitória nos penais, na Copa do Brasil de 97, Inter 4x1 Grêmio,
em 2008, Inter 3x1 CorItiba, Copa do Brasil 09 e ontem no jogo pela
Libertadores 2015, Inter 3x2 Emelec.
O que fez esse jogo me marcar
tanto, mesmo sendo em uma fase de grupos? O comportamento da torcida que
estava lá e o meu. Ontem posso dizer que fui 11. Todos foram 11. O jogo
só teve um resultado positivo mesmo com aquela desorganização tática
clara do time em campo porque a torcida fez o Gigante rugir muito alto.
Foi o grito do torcedor que empurrou aquela bola do Réver para dentro do
gol. Foi o sopro da torcida que levou a bola do Alex de mansinho para o
fundo das redes. Nilmar surgiu como uma flecha entre os zagueiros e
voltou a marcar para poder ir na arquibancada abraçar os torcedores que o
apoiavam mesmo em sua má fase.
Desde a interdição parcial das
arquibancadas para obras de remodelação do estádio que o time e a
torcida se desencontraram. O ambiente nunca mais tinha sido o mesmo.
paulatinamente vem crescendo e ontem foi o ápice. A torcida está
novamente fazendo a diferença como fez entre 2006 e 2010.
E fico
orgulhoso da maneira como me portei. Ontem procurei deixar todas as
minhas desconfianças em relação a jogadores e ao time de lado desde que a
bola rolou. Incorporei o cada 1 é 11. Fui muito mais participativo que o
normal (muitas vezes pela tensão fico travado) e tentei fazer com quem
estivesse em minha volta fizesse o mesmo. Quando um pessoa vaia, outras
vaiam junto. Quando uma pessoa começa a pular em um lugar que não é tão
pulsante, outros pulam. E ontem eu pulei muito. O Inter saiu ganhando e o
sentimento no meio da torcida era forte, muito forte. O time
equatoriano virou e me contive para não gritar toda raiva que estava ali
guardada dentro de mim naquele momento de fim de primeira etapa. Sentei
na cadeira, analisei bastante o cenário e disse: "Vou transformar essa
raiva em mais apoio. Se perdermos hoje estamos fora da Libertadores. É
hora de apoiar até o apito final".
O Inter entrou em campo p/ o
segundo tempo e o jogador Fabrício que foi deplorável ontem caminhava em
direção do lado em que eu estava olhando o jogo e quando ouvi o
primeiro som de vaia no alto do meu um metro e meio me virei para trás e
gritei: 'Porra, é o que temos hoje, não adianta vaiar agora, vamos
apoiar essas porras que se não virar o placar estamos fora. vamos apoiar
porra;". Fiz isso aos berros mesmo. Ali naquele pequeno setor o
Fabrício chegou e não foi vaiado, nem aplaudido. Assim como eu outros
devem ter pensado e feito a mesma coisa. Apesar de toda aquele
sentimento ruim por tudo que o jogador Fabrício tem representando e
apresentado em campo a torcida deu um oportunidade a ele e ao time.
Para
todos os lados que olhava na arquibancada eu via torcedores com sangue
nos olhos naquele momento. Todos estavam mais do que acreditando,
estavam dispostos a fazer a diferença. E fizemos, fizeram. No gol do
Alex recebi abraços de uns 10 torcedores diferentes. No do Réver nem se
fala. Todos viam todos como 11. Não era o Fabrício, o João da Feira, o
Paulo de Pelotas, a dona Laudelina ou o Rafael que veio do Mato Grosso
do Sul. Nós todos enxergávamos o Inter no companheiro próximo, todos
queriam compartilhar, extravasar e de alguma forma mostrar que fomos os
responsáveis por aquele momento épico, uma virada na base do grito da
arquibancada.
Em muitos títulos conquistados não vi euforia tamanha. O jogo acabou e o estádio cantou mais alto. Tinha muita gente
com a adrenalina lá em cima. Eu e muitos torcedores descemos o túnel
para ir embora gritando com raiva. Os funcionários de bilheteria,
segurança etc, olhavam para nós torcedores abismados com aquela loucura
que só quem torce muito por um time sabe o que é. Tem horas que
transcende. E ontem transcendeu para o bem.
Não sei nem se o
Inter vai passar de fase, mas esse Inter 3x2 Emelec vai ficar marcado na
minha vida para sempre, num momento que cada um da nação colorada se
dispôs a ser o onze que o marketing colorado queria que nós fosse. Sai
orgulhoso de todos, não teve ninguém que não saiu arrepiado do
Beira-Rio. Sai de alma lavado, cumpri minha parte como nunca. /
O momento foi tão ímpar que senti necessidade de fazer esse relato.
By Fabrício Marques
Um momento histórico... jogo histórico..... eu do sofá da minha casa... senti essa vibração e cantei junto com vcs.... impressionante mesmo.
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