quinta-feira, 5 de março de 2015

O dia em que fui 11

O futebol é um esporte tão imprevisível e mexe tanto com os sentimentos de uma pessoa que é apaixonada por ele que foge de regras e padrões normais. O mais óbvio para um torcedor fanático é guardar na memória jogos em que seu time conquista um título. Já fui a mais de 100 jogos no Beira-Rio, dentre esses presenciei cerca de 10 títulos do colorado. Mas por mais incrível que pareça apenas 3 dos 7 jogos que que marcaram muito em 23 anos que vou ao Gigante foram de conquistas do Inter. Na minha primeira vez no estádio, Inter 1x0 Fluminense,Copa do Brasil de 92, Inter 1x0 Grêmio, Gauchão de 97 e Inter 3x2 Chivas, Libertadores de 2010. Os outro quatro jogos foram Inter 2x0 Santos e vitória nos penais, na Copa do Brasil de 97, Inter 4x1 Grêmio, em 2008, Inter 3x1 CorItiba, Copa do Brasil 09 e ontem no jogo pela Libertadores 2015, Inter 3x2 Emelec.

O que fez esse jogo me marcar tanto, mesmo sendo em uma fase de grupos? O comportamento da torcida que estava lá e o meu. Ontem posso dizer que fui 11. Todos foram 11. O jogo só teve um resultado positivo mesmo com aquela desorganização tática clara do time em campo porque a torcida fez o Gigante rugir muito alto. Foi o grito do torcedor que empurrou aquela bola do Réver para dentro do gol. Foi o sopro da torcida que levou a bola do Alex de mansinho para o fundo das redes. Nilmar surgiu como uma flecha entre os zagueiros e voltou a marcar para poder ir na arquibancada abraçar os torcedores que o apoiavam mesmo em sua má fase.

Desde a interdição parcial das arquibancadas para obras de remodelação do estádio que o time e a torcida se desencontraram. O ambiente nunca mais tinha sido o mesmo. paulatinamente vem crescendo e ontem foi o ápice. A torcida está novamente fazendo a diferença como fez entre 2006 e 2010.

E fico orgulhoso da maneira como me portei. Ontem procurei deixar todas as minhas desconfianças em relação a jogadores e ao time de lado desde que a bola rolou. Incorporei o cada 1 é 11. Fui muito mais participativo que o normal (muitas vezes pela tensão fico travado) e tentei fazer com quem estivesse em minha volta fizesse o mesmo. Quando um pessoa vaia, outras vaiam junto. Quando uma pessoa começa a pular em um lugar que não é tão pulsante, outros pulam. E ontem eu pulei muito. O Inter saiu ganhando e o sentimento no meio da torcida era forte, muito forte. O time equatoriano virou e me contive para não gritar toda raiva que estava ali guardada dentro de mim naquele momento de fim de primeira etapa. Sentei na cadeira, analisei bastante o cenário e disse: "Vou transformar essa raiva em mais apoio. Se perdermos hoje estamos fora da Libertadores. É hora de apoiar até o apito final".

O Inter entrou em campo p/ o segundo tempo e o jogador Fabrício que foi deplorável ontem caminhava em direção do lado em que eu estava olhando o jogo e quando ouvi o primeiro som de vaia no alto do meu um metro e meio me virei para trás e gritei: 'Porra, é o que temos hoje, não adianta vaiar agora, vamos apoiar essas porras que se não virar o placar estamos fora. vamos apoiar porra;". Fiz isso aos berros mesmo. Ali naquele pequeno setor o Fabrício chegou e não foi vaiado, nem aplaudido. Assim como eu outros devem ter pensado e feito a mesma coisa. Apesar de toda aquele sentimento ruim por tudo que o jogador Fabrício tem representando e apresentado em campo a torcida deu um oportunidade a ele e ao time.

Para todos os lados que olhava na arquibancada eu via torcedores com sangue nos olhos naquele momento. Todos estavam mais do que acreditando, estavam dispostos a fazer a diferença. E fizemos, fizeram. No gol do Alex recebi abraços de uns 10 torcedores diferentes. No do Réver nem se fala. Todos viam todos como 11. Não era o Fabrício, o João da Feira, o Paulo de Pelotas, a dona Laudelina ou o Rafael que veio do Mato Grosso do Sul. Nós todos enxergávamos o Inter no companheiro próximo, todos queriam compartilhar, extravasar e de alguma forma mostrar que fomos os responsáveis por aquele momento épico, uma virada na base do grito da arquibancada.

Em muitos títulos conquistados não vi euforia tamanha. O jogo acabou e o estádio cantou mais alto. Tinha muita gente com a adrenalina lá em cima. Eu e muitos torcedores descemos o túnel para ir embora gritando com raiva. Os funcionários de bilheteria, segurança etc, olhavam para nós torcedores abismados com aquela loucura que só quem torce muito por um time sabe o que é. Tem horas que transcende. E ontem transcendeu para o bem.

Não sei nem se o Inter vai passar de fase, mas esse Inter 3x2 Emelec vai ficar marcado na minha vida para sempre, num momento que cada um da nação colorada se dispôs a ser o onze que o marketing colorado queria que nós fosse. Sai orgulhoso de todos, não teve ninguém que não saiu arrepiado do Beira-Rio. Sai de alma lavado, cumpri minha parte como nunca. /

O momento foi tão ímpar que senti necessidade de fazer esse relato.


By Fabrício Marques

Um comentário:

  1. Um momento histórico... jogo histórico..... eu do sofá da minha casa... senti essa vibração e cantei junto com vcs.... impressionante mesmo.

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